segunda-feira, 23 de maio de 2011

Menos é mais: grupos anti-consumismo ganham espaço com a internet

por Andrea Vialli


(Acima, uma das campanhas da canadense Adbusters)


Para eles, menos é mais. Para além do ‘consumo verde’ (assunto do post anterior), cresce a força de grupos sociais que estão simplesmente reduzindo o ritmo das compras. Na esteira de movimentos ambientalistas, anti-globalização e pró-direitos dos animais, entre outros, os grupos anti-consumismo ganham força a partir do fortalecimento das ONGs e da profusão das redes sociais na internet.

Um exemplo interessante é o grupo canadense Adbusters (literalmente caçadores de anúncios), fundado em 1989. O grupo, que hoje mantém um website e edita uma revista com tiragem de 120 mil exemplares, ficou conhecido por parodiar anúncios publicitários com uma mensagem anti-consumismo. Em 1992, idealizou o Buy Nothing Day (Dia sem Compras), onde as pessoas são convidadas a passar ao menos um dia sem comprar nada – a idéia é promover uma reflexão sobre o peso que o consumo tem no estilo de vida contemporâneo.

Nos anos 90, o movimento Downshifting, também conhecido como Simplicidade Voluntária passou a ganhar adeptos a partir dos livros de autores como Duane Elgin e Vicki Robin. A idéia principal é assumir um estilo de vida propositalmente mais despojado, com menos coisas e com um retorno à vida em comunidade. “Não é para deixar de comprar. E sim deixar de buscar a felicidade nas compras”, diz Vicki. A idéia já tem adeptos no Brasil, com uma profusão de sites sobre o tema.

A radicalização do conceito levou gente como o americano Colin Beavan a abrir mão dos confortos do cotidiano em troca de ser um ‘homem sem impacto’. Em seu blog, No Impact Man, ele conta tudo sobre as dificuldades enfrentadas por ele e sua família ao tentar levar a vida sem plástico, papel higiênico e cortando pela metade o consumo de energia. Vai virar livro e filme.

Há ainda os curiosos freegans, que se auto-intitulam os ‘anarquistas verdes’. A idéia aqui é levar uma vida ‘free’, em todos os aspectos: tudo o que ‘consomem’ deve ser de graça. Móveis e outros utensílios podem ser conseguidos a partir do descarte alheio ou de endereços com o www.freecycle.org - onde itens são ofertados de graça. Até sua alimentação um autêntico freegan consegue assim, nem que seja revirando a lata de lixo das casas mais abastadas…

Crise

“À medida que ficam mais claras as relações entre o ato de consumir e a sustentabilidade do planeta, as pessoas tendem a rever seus conceitos. Mas é um processo lento, de educação”, diz Hélio Mattar, que no Brasil dirige o Instituto Akatu, ONG que dissemina o conceito do consumo consciente.

E não vão faltar argumentos. “A capacidade de reposição do planeta é simplesmente insuficiente para satisfazer, de uma forma sustentável, as ambições da China, Índia, Japão, Europa e Estados Unidos, bem como as aspirações do restante do mundo”. O veredicto, dado pelo relatório “O Estado do Mundo” (The State of the World) da ONG Wordwatch Institute, serve para ilustrar as implicações do consumo excessivo para o futuro da humanidade – se sistemas menos impactantes ao ambiente e às pessoas não se difundirem nos próximos anos.

Só os EUA são responsáveis por 25% do consumo de energia elétrica no mundo e por 30% do lixo gerado. Isso com cerca de 5% da população da Terra. O tema é explicado de forma didática e até bem-humorada (sim, é preciso) nesse vídeo da Tides Foundation, dos EUA. Partindo de um objeto de desejo atual, o iPod, a apresentadora Annie Leonard mostra o lado absurdo do modelo atual de produção e consumo de massa, que ganhou força nos pós-Guerra.

Boicotes

Com a internet, os grupos se tornam redes e os movimentos ganham mais dimensão, a ponto de se pressionar as corporações. Um outro link interessante é a lista de empresas ‘boicotáveis’ do site Ethical Consumer, do Reino Unido. Com base em reportagens da própria revista, foi feito um levantamento das fragilidades das grandes empresas. Aí estão até mesmo ícones como a marca de cosméticos The Body Shop. Após sua venda para a gigante L’Oreal, a The Body Shop não estaria mantendo seus antigos pilares, como a não-aplicação de testes em animais e seus programas de comércio justo com comunidades pobres da África. Coca-Cola, Toyota, Procter&Gamble e mesmo a China também figuram no ranking entre os dignos de boicote.

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