Da France Presse
NOVA YORK, 19 dez 2007 (AFP) - De um lado, um monte de sacos de lixo que abundam nas calçadas de Nova York; do outro uma banca improvisada com frutas e pacotes de biscoitos e doces: uma verdadeira ceia de Natal acaba de ser tirada do lixo por um grupo dos chamados "Freegans", uma junção de conceitos libertários (free/livre) e alternativos (vegan/vegetariano).
No cruzamento da 3a. avenida com a 38th street de Manhattan, vários militantes desse movimento anticonsumista esperam pelo encerramento das atividades de um supermercado de luxo para agir antes que os caminhões coletores de lixo passem para fazer sua ronda.
O grupo age rapidamente, abre os sacos de lixo e tira deles quantidades incríveis de alimentos: caixas de morangos, iogurtes, sucos de fruta e diversas frutas e legumes.
Depois desse momento de agitação e desordem, os sacos plásticos voltam a ser fechados, os militantes ajeitam os itens recolhidos na improvisada banca e convidam os transeuntes a se servir das iguarias.
"É só um morango ter uma manchinha escura ou a data de validade do iogurte estar vencida em um dia para tudo ser jogado no lixo", explica Christian Gutiérrez, de 34 anos, que vive numa casa ocupada no bairro do Soho, sul de Manhattan, exibindo com orgulho um sobretudo Burberry's "encontrado no lixo". Assim como seus sapatos, os quais, segundo ele, sequer precisou reparar as solas.
O "Freeganismo" tem com lema "a vida além do capitalismo", um conceito que consiste em recuperar, compartilhar e reciclar.
O movimento reivindica a "coleta urbana", o direito à moradia gratuita, a solidaridade e o desemprego voluntário "porque o homem passa a vida trabalhando para pagar faturas e consumir".
Christian, desempregado por escolha, tem uma oficina móvel de montagem de bicicletas. Seu comércio funciona apenas às quartas-feiras, das 18 às 21 horas, e aos sábados, das 14 às 19.
"Venha aprender a fazer sua própria bicicleta", diz um prospecto que também dá a lista dos "eventos freegan" que acontecem em dezembro. "As pessoas vêm para consertar as bicicletas e ficam para jantar porque minha geladeira está sempre cheia", afirma.
"Nós crescemos com a convicção de que o que tem no lixo não necessariamente é lixo", explica Cindy Rosin, de 31 anos, que ensina artes numa escola primária do bairro de Queens (norte de Nova York).
"Grupos como os nossos se multiplicam nos Estados Unidos. Há um, que se chama 'Compact', cujos membros tentam viver o ano todo sem gastar um centavo", acrescenta Cincy, enquanto se aproxima de uma padaria para resgatar um saco de "bagels" jogados fora.
No geral, os transeuntes convidados para o ágape ficam meio desconcertados e os "Freegan" acabam levando tudo para casa.
"Nosso objetivo não é distribuir alimentos e sim informar as pessoas, falar-lhes do desperdício da sociedade de consumo, da destruição do planeta", explica o "freegan" Adam Weissman.
Os meios de comunicação são bem-vindos, mas certos acontecimentos estão "proibidos para a imprensa", acrescenta.
Os "Freegans" também organizam ações de "colheta selvagem": sob a direção de Tim Keating, "caçador urbano há mais de 30 anos". Ele conduz passeios pelos parques de Nova York durante os quais se aprende a sobreviver apenas com "os frutos e as frutas que encontram".
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